Na primeira parte desse negócio (como eu deveria chamar o conjunto?), dei alguns pitacos sobre a chamada “nova geração da MPB”. Levantei a questão de se isso realmente existia, ou, melhor dizendo, se temos algum motivo para colocar toda essa gente em uma caixinha e etiquetar com esse nome. A maioria dos comentários que fiz foram meio negativos, mas deixei os positivos para esta parte II.
Quero começar, contudo (como já tinha adiantado) respondendo a esse artigo do André Forastieri, ídolo do nosso ídolo Norberto Reeves. No artigo, Forastieri chama a nova geração da MPB de MIB – Música Impopular Brasileira -, e disso ele passa a reclamar que a nova geração não dialoga (e nem tenta dialogar) com o grande público, como se essa ausência de sucesso de massa fosse determinante para o sentido da coisa.
Mas por que deveríamos esperar esse sucesso? O Juliano já cantou a pedra nos comentários do meu primeiro post: o termo “música popular” é usado em oposição a “música erudita”; nunca teve conotação de sucesso de massa; de modo que a conversa toda é desperdício de teclado. Daria, contudo, para prescindir dos termos ao defender a importância do sucesso, de modo que bola pra frente…
Formulemos a pergunta assim: uma pretensa nova geração, pra cumprir essa vocação, precisa ter sucesso massivo, extra-subcultura? Pode ser que precisasse, até pouco tempo atrás, quando a mídia de massa significava que os movimentos, fossem populares ou alternativos, eram vistos por todo o mundo ao mesmo tempo, no rádio ou na televisão, e que portanto para formar uma ‘geração’ o sujeito precisava disso.
Acontece que a moral dessa nova geração é justamente a transição da mídia de massa para a mídia social. Se isso significa alguma coisa de relevante e emocionante é precisamente que não tem mais que todo o mundo gostar das mesmas coisas, que podem haver inúmeras camadas, ‘gerações’ sobrepostas acontecendo ao mesmo tempo, e que nenhuma delas precisa ter sucesso de massa.
O próprio Forastieri começa seu artigo baseado em uma reportagem que acusa precisamente esse fato: enquanto os camelôs seguem vendendo sucessos massivos – sobreviventes para quem ainda forma seu gosto pela cultura de massa – o mercado atingido pela ‘nova geração’ é reduzido mas efetivo: uma galerinha restrita que conheceu a parada pela internet compra na loja de CDs.
Afinal que mal tem nisso? Como disse o Lenine, cujas opiniões curto pra caramba (acho que no Roda Viva): acabou a era dos milhões para poucos, começou a era dos milhares para muitos. No meu livro isso é ótimo. Significa que ao invés de uns poucos artistas milionários teremos muita gente vivendo de arte, e que teremos muito mais música boa para escolher e consumir livremente, sem ninguém decidir isso por nós.
Forastieri, portanto, critica a partir do paradigma ultrapassado. Além do mais, não adianta vir com o velho papo de que a panelinha intelectual não pode determinar, na contramão das massas, o que é bom. Pode sim, e sempre foi assim. Aquilo que hoje é tido como o melhor da história da música sempre esteve em uma segunda linha do pop, atrás de porcarias – porcarias estas das quais hoje nem lembramos.
De modo que esse tipo de crítica joga a favor da nova geração: se existe algo de relevante a respeito dessa gente é justamente que eles não fazem grande sucesso e, ainda assim, atingem alguém. Como disse o Regis Tadeu, a nova música brasileira não vai aparecer na tua cara nas mídias de massa. Isso não significa, contudo, que não é boa, como o próprio Regis procura demonstrar na sua série de posts.
Infelizmente, quase nada dessa lista do Regis me convenceu a baixar discos – imagina se eu tivesse que ir à loja! Quase tudo é bonzinho, mas nada dá a vertígem. Nada parece capaz de mudar a minha forma de ver as coisas, que é o que música popular realmente boa deveria fazer. Essa mediocridade geral talvez seja também parte desse espírito gerado pela pluralidade? Espero que não, né?
Claro que existem algumas coisas realmente boas por aí (até um relógio parado está certo duas vezes ao dia). Exemplos que vêm a mente são o Apanhador Só – som altamente criativo e aventuresco -, o Lucas Santtana, apresentado a mim pelo Vini e pelo APJ, e mesmo a banda desses dois, a Canastra, que tem feito movimentos estéticos indicativos das pulgas na cueca necessárias pra fazer algo relevante.
Mas de modo geral, é difícil comprar a ideia de que temos uma nova geração fazendo algo de relevante. Pode ser que eles expressem muito bem o momento, mas isso basta? Nos falta talvez algo além disso; algo que nos leve além do momento presente, que o coloque em questão. Difícil imaginar o que seria isso a priori (se eu imaginasse não estaria aqui escrevendo bobagem, e sim no estúdio do Lauro Maia gravando um disco), mas talvez o lembrete valha contra a acomodação.